quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Começando a vida


Nada é mais triste que ser incumbida de tirar a virgindade de um moleque na puberdade.
Aquela criança espinhuda que poderia ser meu filho chega, meio sem jeito. Deve ter uns 13, 14 anos. As roupas são mais largas do que as mais provavelmente adequadas para o corpo. Ele treme da cabeça aos pés, e tem vergonha até de tremer.
-Calma-, digo eu.
-Eu estou calmo! - como quem diz: "você pensa o quê??! Que eu nunca transei na vida?? Eu sou macho, rapá!"
-Como você quer que seja?
-F-f-f-frango assado. - perdoe-o, Pai. Ele não sabe o que diz.
-Ok. Vou tirar a roupa, então.
-NÃO!
-?...
-É...é que eu queria que você fizesse um strip tease antes.
-Tá...vou ligar a música.

Enquanto faço o strip tease, penso na pizza que deixei no congelador. Acho que vou passar no mercado e comprar uma Coca. Quem será que vai pro paredão hoje? Vou ver Big Brother comendo aquela pizza e bebendo Coca. Hunnn...

-E-e-eu comprei uma coisa pra você fazer o strip-tease. -ah, lingerie preta. Bom, pelo menos na fantasia, você vai ser igual a todos os outros. Mas não entendo essa fantasia besta de ter a sua primeira vez com alguém que você nunca viu antes e que espera nunca tornar a ver.

-Tá, vou no banheiro trocar - pobre criança. Enquanto eu troco de roupa, penso em um modo de deixá-lo relaxado. Bem que eu podia pedir pra minha empresária providenciar uma champagne. Se tem algo neste mundo machista que deve ser comemorado, é a perda da virgindade de um moleque. Que lingerie é essa? Minúscula! Vou ficar ridícula com isso. Robe urgente.

-Você vai ficar um pouquinho mais de tempo aqui e não vai pagar mais por isso - digo eu, decidida, quando saio do quarto. O tal tempo a mais fica por minha conta. Nada como uma atitude altruísta por semana.

-O-o-o-quê?
-Garoto, você bebe?
-Claro que sim.
-Fala a verdade.
-Bom...semana passada eu tomei um porre de...
-Deixa eu fazer uma ligação.

Fico lá fora fumando um cigarro e esperando a champagne chegar. Lá vem um representante do meu agente me entregar a bebida, que também sai do meu bolso. Aliás, não é só o meu bolso que ele filma; é o robe todo. Mas meu olhar gélido de não-dou-pra-quem-não-me-paga o afugenta rapidinho.

Trago a bebida para o quarto e ele tem a ousadia de acabar com qualquer disfarce que possivelmente pudesse ter usado:
-O que é isso?
-Champagne. - levemente decepcionada porque eu quase vira uma carreira de ator começar naquela cama, sirvo a champagne nas duas taças. Será que é aquele gatíssimo que vai pro paredão hoje? Ou a loirinha?

-Mas será que eu vou ficar muito bêbado se tomar isso? A minha mãe não pode sentir cheiro de álcool - ok, agora ele desistiu completamente de disfarçar qualquer coisa.
-Relaxa, moleque - eu acho que a loirinha vai pela casa e o gatíssimo vai pelo líder.

O moleque degusta a bebida. Ele fez uma cara de quem comeu, ou melhor, bebeu e não gostou. Mas é lógico que engoliu aquilo fingindo que gostou, da mesma forma que nós somos pagas para engolir certas coisas fingindo que gostamos. Mas quem está me pagando, afinal, é ele. Eu só pago a champagne e os 15 minutos a mais suficientes pra esse poço de hormônios gozar.

Por que perder a virgindade tão cedo? Pra quê a pressa? A pressão que esses moleques sofrem por parte da família, dos amigos e deles mesmos para provarem que gostam de mulher é tão grande que eu morro de pena e agradeço todos os dias por não ter nada balançando entrepernas.

-Termina de beber isso aí.
-Você não vai beber, não?
-Ah, é - droga. Eu tava na esperança de que ele gostasse de uma cachaça e esquecesse de mim. Adeus, Big Brother. A única coisa que eu vou ver hoje é meu travesseiro.

Cerca de dez minutos se passam até que o olhar dele comece a mudar. Hora de ligar a música e fingir que eu não me sinto gorda nessa lingerie comprada para modelos de revista.

Strip-tease feito, virgindade tirada numa posição nada parecida com frango assado, ruídos estranhos saídos do moleque, ejaculação precoce como eu previ, porque champagne não é Lexotan e nem é recomendável misturar as duas coisas. Cliente feliz, que promete voltar. Mau sinal. Mal começou a transar e já tá querendo criar laços afetivos. Esse vai ser sentimental.

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